Após um ano de tentativas de engravidar sem sucesso, o casal deve buscar o auxílio de um especialista em reprodução humana para conhecer a verdadeira causa da infertilidade e buscar o tratamento adequado. Em 30% dos casos ela é causada devido a fatores masculinos.
Em cerca de 90% das vezes, as causas de infertilidade masculina são as modificações nos espermatozoides. A baixa quantidade ou qualidade deles e a fragmentação do DNA espermático, que consiste em espermatozoides que não são capazes de formar um embrião com DNA completo, são fatores bastante comuns. Contudo, a morfologia dos gametas também é um fator muito importante e que merece atenção.
As alterações morfológicas dos espermatozoides são modificações no formato dos gametas. Espermatozoides normais possuem calda longa e cabeça oval, não muito grande. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é preciso que, pelo menos, 30% dos espermatozoides presentes no organismo do homem tenham uma forma normal para que exista a fecundação, visto que espermatozoides que possuem alterações não são capazes de fecundar o óvulo.
Segundo o critério de Kruger, um método mais detalhado de avaliação dos espermatozoides, que permite classifica-los como normal ou anormal de acordo com sua forma, o índice de espermatozoides com morfologia perfeita deve ser maior do que 4% para que haja maiores chances de gravidez. Quando a morfologia estrita de Kruger está abaixo de 5%, as taxas de fecundação do óvulo pelo espermatozoide são baixas e a fertilização in vitro está indicada.
Que tipos de alterações morfológicas o espermatozoide pode ter?
Existe mais de um formato que é considerado anormal para um espermatozoide e cada um impede que a fecundação e, consequentemente, a gravidez ocorra de maneiras diferentes. Entenda cada um e como eles interferem na fertilidade masculina:
- Cabeça grande: Devido ao peso da cabeça ser maior, nesses casos o espermatozoide não possui energia suficiente para se locomover até encontrar o óvulo. A maioria não chega a passar nem mesmo da entrada do colo do útero.
- Cabeça pequena: Nos casos em que o espermatozoide possui cabeça menor do que a normal, devido à propulsão da calda, ele sai desorientado. Além disso, devido à pequena proporção da cabeça, o material genético presente nesse espermatozoide fica comprometido ou com poucas enzimas, o que impediria que ele penetrasse o óvulo mesmo que conseguisse encontrá-lo.
- Cabeça dupla: Os espermatozoides de cabeça dupla não são capazes de nadar, apesar de se mexerem, não conseguem sair do lugar. Além de não alcançarem o óvulo, atrapalham a movimentação dos demais que estão tentando passar.
- Cauda bífida: Devido haver duas caudas, não há sincronia no movimento, já que cada uma empurra para um lado e acabam não indo a lugar nenhum. Por conta do excesso de esforço, espermatozoides com cauda bífida acabam morrendo antes.
- Cauda curta: Os espermatozoides que apresentam cauda curta não conseguem ter velocidade suficiente para “nadar” ao encontro do óvulo antes dos demais. Além disso, devido gastarem muita energia, eles morrem de exaustão.
- Acrossoma defeituoso: O acrossoma é uma organela que fica localizada na parte frontal da cabeça do espermatozoide e possui enzimas responsáveis pela penetração no óvulo. Para os casos em que o acrossoma apresenta defeitos ou, até mesmo, é ausente, a penetração torna-se impossível.
Essas características espermáticas são possíveis apenas por meio de um exame chamado de espermograma, que analisa características dos gametas masculinos, e é essencial para descobrir causas de infertilidade masculina. Apenas um especialista em reprodução assistida poderá prescreve-lo a fim de identificar o melhor tratamento para o caso.
Levando em consideração a morfologia estrita de Kruger, é comum que o especialista em reprodução assistida oriente o casal a um tratamento de Inseminação Intrauterina (IIU) quando o índice de gametas normais for maior do que 5%. Além da morfologia favorável, a concentração dos espermatozides MÓVEIS E PROGRESSIVOS deve ser acima de 5 milhões/ml para que haja gravidez espontânea ou para realização de inseminação artificial. Para os casos que a concentração de espermatozoides móveis do tipo A e B não chegam a 5 milhões/ml, o tratamento indicado é a fertilização in vitro, podendo ser a fertilização in vitro clássica. Para os casos em que a morfologia de Kruger é menor do que 5%, é aconselhado um tratamento de ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoides), uma técnica que permite inserir um espermatozoide “saudável”, selecionado microscopicamente, diretamente dentro do óvulo com o auxílio de uma agulha de máxima precisão.