Antidepressivo causa infertilidade?

Medicamentos seguros, os antidepressivos ainda levantam questões sobre seus possíveis efeitos colaterais. Saiba se eles podem causar infertilidade.

Entre 2022 e 2024, o Conselho Federal de Farmácia apontou um aumento de 18,6% no consumo de medicamentos voltados à saúde mental no Brasil. Esse dado mostra avanços importantes no combate ao preconceito com doenças psiquiátricas e na busca por tratamentos.

No entanto, o uso de antidepressivos ainda levanta dúvidas, especialmente quando o assunto é fertilidade. Uma das perguntas mais frequentes nos consultórios médicos é se o antidepressivo causa infertilidade. A resposta exige atenção aos diferentes mecanismos de ação desses medicamentos e como eles afetam o sistema reprodutivo de homens e mulheres.

Antidepressivos podem causar infertilidade?

Para entender se o antidepressivo causa infertilidade, é preciso reforçar que esses medicamentos atuam na regulação dos neurotransmissores no sistema nervoso central, especialmente serotonina, dopamina e noradrenalina. As classes mais comuns são os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), os inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN) e os antidepressivos tricíclicos. Ao inibirem os transportadores responsáveis por reabsorver esses neurotransmissores nos neurônios pré-sinápticos, os antidepressivos aumentam a disponibilidade sináptica dessas substâncias. Isso melhora o humor, a ansiedade e outros sintomas depressivos.

No entanto, ao interferirem no equilíbrio químico do cérebro, esses medicamentos também influenciam o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal — responsável por regular a produção hormonal nos ovários e testículos.

A liberação do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) pelo hipotálamo pode ser inibida por níveis elevados de serotonina, afetando a liberação de LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio folículo-estimulante) pela hipófise. Com isso, o ciclo menstrual pode se tornar irregular e a produção de espermatozoides pode ser comprometida.

Quais são os efeitos dos antidepressivos na fertilidade?

Antes de analisarmos se o medicamento antidepressivo causa infertilidade, devemos reforçar os efeitos negativos que a depressão ou a ansiedade possuem sobre a fertilidade. Pessoas que sofrem com transtornos psiquiátricos podem ser acometidas pela maior liberação de cortisol e outros hormônios do estresse, o que também pode suprimir a liberação do hormônio liberador de gonadotrofina.

Além disso, é importante salientar que o impacto na fertilidade varia de acordo com o tipo de antidepressivo, o tempo de uso e o perfil biológico do paciente. Um dos primeiros efeitos observados é a diminuição da libido, causada pelo excesso de serotonina, um neurotransmissor que, quando atinge níveis elevados, pode inibir a dopamina e, desta forma, o desejo sexual e a excitação.

Além disso, o aumento sustentado de serotonina pode interferir nos pulsos de GnRH, impactando a ovulação nas mulheres e a espermatogênese nos homens. Assim, vemos que não é possível afirmar que o antidepressivo causa infertilidade em todos os pacientes, primeiro porque o princípio do medicamento é justamente regular neurotransmissores no sistema nervoso central, assim como a reação aos remédios será individual para cada paciente.

Antidepressivos e fertilidade feminina

Nas mulheres, os antidepressivos podem provocar irregularidades menstruais, amenorreia (ausência de menstruação), ciclos anovulatórios e até redução na espessura do endométrio, o que dificulta a implantação do embrião.

Antidepressivos e fertilidade masculina

Já nos homens, alguns antidepressivos estão associados à diminuição da concentração, motilidade e morfologia dos espermatozoides. Não é uma certeza de que o antidepressivo causa infertilidade masculina, porém, é importante citar que há relatos de disfunção erétil e ejaculatória. Em especial, os ISRS podem causar retardo ou ausência de ejaculação, além de alterarem a função da testosterona, prejudicando a qualidade seminal.

Antidepressivos atrapalham tratamentos de fertilidade?

Para entendermos se o medicamento antidepressivo causa infertilidade, também é necessário considerarmos os impactos nos tratamentos realizados em casais que sonham em formar uma família.

O uso de determinados antidepressivos pode dificultar tratamentos de reprodução assistida, especialmente quando impactam diretamente a resposta hormonal ou a função sexual. Há relatos de menor taxa de fertilização e maior risco de falhas de implantação em mulheres sob uso contínuo de ISRS. Além disso, efeitos adversos como secura vaginal ou ausência de ovulação podem reduzir as chances de sucesso de técnicas como a Fertilização in Vitro (FIV).

Existem antidepressivos mais seguros para quem deseja engravidar?

Embora todos os antidepressivos exijam cautela, alguns princípios ativos parecem interferir menos na fertilidade e evitar dúvidas se o antidepressivo causa infertilidade.

A bupropiona, por exemplo, não atua diretamente na serotonina, e sim na dopamina e noradrenalina, apresentando menor risco de disfunções sexuais. Outras opções incluem a mirtazapina e alguns antidepressivos atípicos.

No entanto, a prescrição deve sempre ser feita por um médico psiquiatra, considerando o histórico clínico, a intensidade dos sintomas e o planejamento reprodutivo do paciente. É indispensável informar ao profissional o desejo de engravidar, para que o tratamento seja individualizado. Além disso, reforçamos sempre que não há uma certeza de que o medicamento antidepressivo causa infertilidade em todos os casos. No entanto, é possível afirmar que o paciente que sofre com questões psiquiátricas coloca em risco não apenas a sua fertilidade como também o seu bem-estar e qualidade de vida. Desta forma, não deixe de procurar o tratamento psiquiátrico mais assertivo sempre que necessário, mantenha o foco na sua saúde mental.

 

Fontes:

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA)

National Institutes of Health

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