Exame EndomeTRIO: ERA + EMMA + ALICE

Com uma única amostra, é possível realizar três exames para avaliar a saúde e a receptividade endometrial

A avaliação do ambiente uterino é uma etapa essencial para o sucesso da Fertilização in Vitro (FIV), especialmente em mulheres que enfrentam falhas repetidas de implantação. O exame EndomeTRIO foi desenvolvido para investigar três aspectos do endométrio: o momento ideal para a transferência embrionária (ERA), a composição da microbiota uterina (EMMA) e a presença de inflamações associadas a patógenos (ALICE).

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O que é o exame EndomeTRIO?

O EndomeTRIO é a junção de três testes — ERA, EMMA e ALICE — que avaliam a saúde e a receptividade endometrial por meio da análise de amostras do tecido: o ERA (análise da receptividade endometrial), o EMMA (avaliação da microbiota uterina) e o ALICE (identificação de agentes infecciosos relacionados à endometrite crônica).

Esses exames devem ser coletados preferencialmente em serviços de reprodução assistida e encaminhados para laboratórios especializados no exterior, onde são processados, eles têm o objetivo de fornecer dados mais precisos sobre o ambiente endometrial para embriões transferidos durante a FIV.

ERA

Um dos mais famosos entre os três exames que compõem o EndomeTRIO, o exame ERA (endometrial receptivity analysis) avalia o perfil genético da receptividade endometrial com base na expressão de 248 genes. Ele determina se o endométrio está em sua “janela de implantação”, ou seja, se o tempo de exposição à progesterona foi adequado para a transferência embrionária ou se deveria ser maior ou menor com base na avaliação da atividade desses genes.

Contudo, estudos recentes apontam limitações relevantes para o uso do ERA. Uma pesquisa publicada com 307 ciclos de FIV guiados por ERA indicou que 40,7% das pacientes foram classificadas como receptivas e 59,3% como não receptivas. No entanto, após ajuste estatístico pelo número de tentativas anteriores, as taxas de nascidos vivos entre receptivas e não receptivas foram comparáveis (48,8% vs. 41,7%). Além disso, não houve diferença significativa entre os grupos que realizaram ERA e aqueles que seguiram o protocolo padrão (44,6% vs. 51,3%).

Outro estudo multicêntrico retrospectivo, envolvendo mais de 5 mil transferências com embriões euploides, comparou o uso do ERA com protocolos convencionais. Os resultados foram inferiores nos grupos que realizaram transferência personalizada (pET) com base no ERA, tanto em ciclos com óvulos próprios quanto com óvulos de doadoras. As taxas de implantação e gravidez clínica também foram mais baixas nos ciclos que seguiram o resultado do ERA.

Por fim, uma terceira pesquisa prospectiva analisou pacientes em seu primeiro ciclo de transferência com embrião euploide. A taxa de nascidos vivos foi praticamente idêntica entre os grupos com pET guiado por ERA (56,5%) e tempo padrão (56,6%). Assim, o estudo concluiu que o uso rotineiro do ERA não apresenta vantagens reprodutivas em mulheres sem histórico de falhas.

Diante desses resultados, atualmente o teste ERA não tem sido oferecido de forma rotineira, mas, sim, tem ficado reservado para situações específicas de falhas de implantação, após uma avaliação detalhada do caso.

EMMA

O exame EMMA (Endometrial Microbiome Metagenomic Analysis) analisa o microbioma do endométrio, especialmente a quantidade de lactobacilos (bactérias benéficas associadas à estabilidade uterina).

A presença dominante de lactobacilos (>90%) está relacionada a taxas mais altas de implantação e gravidez bem-sucedida, assim, o EMMA fornece uma análise quantitativa e qualitativa das espécies bacterianas e pode indicar um desequilíbrio que, se corrigido com probióticos ou antibióticos, pode melhorar o ambiente uterino.

ALICE

O exame ALICE (Analysis of Infectious Chronic Endometritis) faz parte dos três exames do EndomeTRIO e detecta a presença de patógenos relacionados à endometrite crônica, como Escherichia coli, Streptococcus e Mycoplasma.

Utilizando tecnologia de sequenciamento genético, o teste identifica infecções persistentes que podem afetar negativamente a implantação do embrião. Quando diagnosticada, a endometrite crônica pode ser tratada com antibioticoterapia específica antes de novas tentativas de FIV, já que a identificação precisa das bactérias presentes permite o tratamento correto, guiado por laudo de antibiograma.

Qual a importância do EndomeTRIO?

O exame EndomeTRIO pode oferecer informações complementares em casos específicos de infertilidade, como falhas repetidas de implantação embrionária, endometrite suspeita ou alterações na microbiota uterina.

Ainda que os dados atuais questionem a eficácia do ERA isoladamente, a análise combinada com EMMA e ALICE pode revelar condições uterinas ocultas que influenciam a receptividade endometrial. O EndomeTRIO é uma ferramenta diagnóstica que deve ser usada com critério, levando em conta o histórico clínico e a indicação médica especializada.

Quando é indicado fazer o EndomeTRIO?

O EndomeTRIO é indicado principalmente para pacientes com histórico de duas ou mais falhas de implantação de embriões euploides em ciclos de FIV. Também pode ser recomendado para mulheres com suspeita clínica ou ecográfica de endometrite crônica, presença de microbiota uterina alterada, ou sintomas uterinos não esclarecidos.

Ele não é recomendado rotineiramente para todas as pacientes, especialmente aquelas em seu primeiro ciclo de transferência, conforme evidenciam os estudos clínicos mais recentes.

Como é realizado o EndomeTRIO?

O exame EndomeTRIO é feito por meio de uma biópsia endometrial, geralmente entre o 19º e o 21º dia do ciclo menstrual, após controle hormonal e orientação médica. A coleta é realizada em consultório, com uso de cânula fina inserida na cavidade uterina. A amostra é então enviada para análise molecular em laboratório especializado, que realiza os três testes: ERA, EMMA e ALICE. O resultado completo pode levar de 15 a 20 dias úteis.

Apesar de receber o nome de TRIO, é importante frisar que cada exame (ERA, EMMA e ALICE) pode ser solicitado isoladamente, ou seja, é possível fazer apenas a análise do ERA ou apenas de EMMA+ALICE, por exemplo. A definição sobre realizar ou não o TRIO completo depende da conduta médica.

Sempre que a coleta incluir o ERA será necessário simular o preparo de transferência embrionária com seguimento ultrassonográfico, medicação hormonal específica para o caso da paciente e dosagens hormonais. Caso o ERA não seja indicado, a coleta de EMMA e ALICE deverá ser realizada na fase pós-ovulatória do ciclo menstrual.

Quais resultados o exame EndomeTRIO pode apresentar?

Os laudos do EndomeTRIO podem indicar:

  • Um endométrio com receptividade adequada ou com necessidade de ajuste do momento da transferência (ERA);
  • Uma microbiota uterina saudável ou desequilibrada, com necessidade de intervenção (EMMA);
  • A presença de patógenos causadores de endometrite, com indicação de tratamento (ALICE).

Esses dados orientam condutas médicas mais individualizadas e podem ser úteis em casos de falha de implantação sem causa aparente.

Como o EndomeTRIO pode aumentar as chances da FIV?

Embora o exame EndomeTRIO não seja um sinônimo de sucesso no tratamento de FIV, ele pode contribuir para identificar e tratar causas ocultas de insucesso, como infecções, desequilíbrios bacterianos ou deslocamento da janela de implantação.

A integração dos três testes permite uma avaliação mais ampla do ambiente uterino. No entanto, como mostram os estudos citados, o ERA deve ser indicado com cautela, principalmente em pacientes sem histórico de falhas, pois não demonstrou benefícios consistentes na taxa de nascidos vivos.

 

Fontes:

Clínica Mater Prime

Live birth after transfer of a single euploid vitrified-warmed blastocyst according to standard timing vs. timing as recommended by endometrial receptivity analysis: Nicole Doyle, M.D., Ph.D.,ª Joshua C. Combs, M.D.,b Samad Jahandideh, Ph.D.,ª Victoria Wilkinson, B.A.,a Kate Devine, M.D.,* and Jeanne E. O’Brien, M.D., M.S.ª

Use of the endometrial receptivity array to guide personalized embryo transfer after a failed transfer attempt was associated with a lower cumulative and per transfer live birth rate during donor and autologous cycles: Mauro Cozzolino, M.D.,a,b.c Patricia Diáz-Gimeno, Ph.D.,* Antonio Pellicer, M.D., Ph.D., a,b and Nicolas Garrido, M.Sc., Ph.D

Routine endometrial receptivity array in first embryo transfer cycles does not improve live birth rate: Carrie Riestenberg, M.D.,ª Lindsay Kroener, M.D.,ª Molly Quinn, M.D.,ª Kaycee Ching, B.S.,b and Gayane Ambartsumyan, M.D., Ph.D

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